sexta-feira, 14 de março de 2014

Muamba Delivery

Quando uma pessoa é aprovada num concurso nacional e entra na Receita ou na Polícia Federal, é muito comum que ela tenha que passar alguns anos trabalhando em uma cidade de fronteira. As fronteiras do Brasil costumam ser cidades pequenas, afastadas dos grandes centros, com custo de vida alto por causa da distância dos centros distribuidores, com estradas precárias, estrutura de saúde deficiente e poucas opções de lazer. Por isso os servidores mais antigos querem sair desse Brasil do B assim que conseguem, abrindo vaga para os novatos, que se sujeitam a - quase - qualquer coisa para serem agentes, delegados, analistas ou auditores fiscais.

Além da distância e das privações, uma dúvida comum dos amigos e parentes é com relação ao risco de trabalhar nesses locais, por causa das notícias de tráfico de drogas, armas, cigarros, eletrônicos, falsificações, contrabandos e descaminhos diversos. Todos ficam apreensivos com o trabalho na fronteira, a triagem de veículos, a verificação em ônibus e caminhões, os sacoleiros formiguinhas, enfim... Realmente tem algum risco, mas tudo depende da forma de se fazer a abordagem, da técnica, da postura e da educação.

E da sorte.

Um colega do Paiva tem todas essas qualidades. Já fez diversas apreensões importantes, retirou muitos e muitos quilos de produtos contrafeitos das ruas e impediu que outros tantos entrassem no território nacional, usando sua técnica, sua postura e sua educação. Mas nada se compara à sua sorte.

Como trabalha em regime de plantão, fazendo horários diferenciados e folgando alguns dias contínuos, o auditor preferiu morar em um hotel, para não ter que montar casa na cidade e poder viajar com mais tranquilidade para o lar doce lar nos períodos de folga. E em um desses dias em que estava saindo do hotel para trabalhar, já na calçada, ele foi abordado por um indivíduo meio perdido, que procurava por uma pessoa qualquer, cujo nome não é importante, mas vamos chamar de "Zé". Sem saber que estava falando exatamente com um servidor público responsável pelo combate ao contrabando, eles travaram mais ou menos o seguinte diálogo:


    - Oi, você é o Zé ?
    - Não, não sou eu não. Por que?
    - Mas você mora aqui?
    - Moro sim.
    - É que o Zé me contratou pra trazer essas mercadorias pra ele. Eu preciso entregar e receber o dinheiro.
    - O que são essas mercadorias?
    - É produto aí da Bolívia, umas roupas que ele encomendou para revender. Tem Lacoste, tem Tommy, tem Hollister, tem Dudalina...

Acho que nunca na história da Receita Federal foi tão fácil fazer uma apreensão de mercadoria sem nota fiscal e falsificada. Uma verdadeira Muamba Delivery!


2 comentários:

  1. Adorei o blog!
    Hi(E)stórias deliciosas!

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    1. Obrigado Marcela. Vindo de você, é um elogio ainda maior. Abs para todo o pessoal de Amparo.

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