domingo, 23 de março de 2014

Lixeira Improvisada

O funcionário público estava sentado lá à sua mesa, atendendo ao cidadão sem muita vontade, passando e recebendo de volta formulários e mais formulários para preencher e assinar, sempre com os mesmos dados e os mesmos termos formais e incompreensíveis aos comuns dos mortais. Mal levantava o rosto para olhar para o cidadão, protegido atrás do computador e escondendo-se na pretensa superioridade do seu cargo.

Passava uma folha e pegava de volta num ato mecânico. Passava outra e pegava de volta sem prestar a atenção. Passava outra e pegava de volta para conferir a assinatura, sem se distrair mas sem observar ao redor. E assim foi indo o atendimento, como todos os outros do dia.

Até que, ao acabar com a papelada burocrática e finalizar o serviço, o cidadão perguntou se havia um cesto de lixo.

Ainda sem levantar a cabeça e sem olhar para o sujeito, o funcionário estendeu a mão espalmada, supondo que seria algum pedaço de papel ou um grampo que precisasse ser jogado fora. Para algo possivelmente tão pequeno não era necessário abaixar para pegar o cesto de lixo, ele mesmo poderia jogar.

E era realmente pequeno, mas não um pedaço de papel inocente. Era um chiclete, saído delicadamente da boca do cidadão e depositado suavemente na mão do funcionário, com toda a saliva característica. Nojento, mas ninguém pode negar que foi um belo presente pela atenção dispensada!


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