Sabe aqueles colchões que ar, que a gente usa em acampamento ou quando alguém vem nos visitar por alguns dias? Pois bem, o casal de pombinhos foi passar um feriado prolongado no litoral, no apartamento do pai da moça, próximo à praia, não muito grande, mas com dois quartos e duas camas. Porém, como era um feriadão e fazia pouco tempo que ele morava no litoral, outros parentes tiveram a mesma ideia e seguiram todos para o apartamento do sogrão.
Por sorte - ou não - o casalzinho resolveu levar o colchão inflável, afinal a segunda cama certamente seria muito disputada e com o colchão eles poderiam se encaixar em qualquer lugar.
Chegando no litoral, todo mundo já estava na praia. Cervejinha daqui, caipirinha dali, um camarãozinho para salgar a boca, um mergulho para salgar o resto do corpo, protetor solar lambuzando o rosto, pé e perna cheios de areia grudada, sunga molhada colada na bunda... aquelas maravilhas que todo mundo já fez diversas vezes na vida e ainda tem a coragem de repetir sempre que pode.
Hora de voltar para casa. Enquanto alguns vão preparar aquela refeição que não dá para saber se é almoço ou jantar, porque o horário é de jantar mas ninguém almoçou ainda, outros continuam bebendo na sacada do apartamento e começa a fila para tomar banho; no único banheiro.
Para tentar um lugar melhor na fila, cada um usa a chantagem emocional que conhece melhor. Tô apertado(a), tô cheio(a) de areia, tô coçando, tô queimado(a), preciso ajudar no "almojanta", sou mais rápido(a), vou junto com o(a) fulano(a) pra agilizar... E começam as pequenas discussões também.
No fim, todo mundo consegue tomar banho, mas as pequenas discussões vão virando discussões médias e depois grandes discussões.
Enquanto a nossa heroína começa a brigar com o pai - dono da casa - o nosso herói está lá cuidando de encher o colchão de ar, para tentar garantir um espaço onde possa deitar mais tarde. Tipo, demarcar o território.
Em toda propaganda de colchão de ar, sempre tem um compressor que enche aquele troço rapidinho. Mas quem é que anda com um compressor daqueles quando quer a praticidade de um colchão inflável? Basta uma bombinha manual, que é mais do que suficiente. Desde que a pessoa tenha paciência, tempo e braço para ficar bombeando durante meia hora até o colchão ficar com uma consistência razoável para dormir sem travar a coluna no dia seguinte.
O herói bombeando o colchão e a mocinha brigando com o pai. O herói bombeando e a mocinha brigando. Até que ele termina de encher, no mesmo instante em que ela termina de brigar. Ele anuncia: podemos deitar! Ela decreta: vamos embora!
É claro que a briga dela com o pai recomeça. Eu vou embora! Você não vai! Eu vou! Não vai!
O mocinho, conhecendo bem a jovem esposa, resolve esvaziar o colchão o mais rápido possível - o que também é uma missão difícil, porque o ar não sai de uma só vez, ele vai escapando aos poucos, a menos que você enfie a faca no meio dele. Na verdade, essa ideia passou pela cabeça dele, mas não chegou a ser posta em prática.
Colchão esvaziado, roupas enfiadas na mala, xingamentos, choros, elevador que demora para chegar... o casal conseguiu chegar no carro e partiu para subir a serra. No meio do caminho, a mocinha pergunta a opinião do príncipe sobre a briga, ao que ele responde, simples e singelo:
- Amor, da próxima vez, briga antes de eu acabar de encher o colchão.