Chegamos em Bombas, nosso destino final, já bem tarde, sem nenhum outro contratempo, por incrível que pareça. No dia seguinte saímos para explorar a cidade e o distrito vizinho de Bombinhas. Muito turista brasileiro, muito turista argentino e muita escola de mergulho. Não tínhamos planejado nada a respeito, mas já que estávamos no paraíso do mergulho, por que não aproveitar para fazer um batismo ?
Os batismos tinham um preço razoável, mas eram muito caros se comparados com o custo do curso total para termos a carteirinha da PDIC. Se fizéssemos o mergulho acompanhado seria legal, mas se fizéssemos o curso completo, seria muito legal, nos tornaríamos mergulhadores e poderíamos explorar diversos outros pontos de mergulho pelo Brasil e, quiçá, pelo Mundo. A carteirinha era internacional.
O Du, que mal conseguia respirar em terra firme, por causa da gripe forte, não se animou. Os demais tiveram a certeza que tinham encontrado a atividade perfeita para a semana de férias. As aulas práticas eram numa praia, pela manhã cedo, e as teóricas eram à noite, no centro da cidade. Seria fantástico, um negócio da China, se não estivéssemos de férias e com a pretensão de não termos compromisso. Viajamos 770 quilômetros para descansar e logo no primeiro dia nos inscrevemos num curso que nos obrigava a ter horário de manhã e à noite. Que saco!
Além disso, o Paiva tinha 4 graus de miopia, e o mergulho autônomo é SEM óculos. Ao final de cada aula, todos discutiam as belezas que tinham visto no fundo do mar, e o Paiva mal tinha visto um ou outro peixinho sem graça.
Mas o pior ainda estava por vir, como sempre. As aulas eram na beira da praia, entrávamos caminhando com o equipamento a partir da areia, nadávamos, afundávamos e aplicávamos o que tínhamos aprendido nas aulas teóricas do dia anterior. Sempre com a mesma roupa velha até a coxa e o mesmo lastro (cinturão de chumbo que o mergulhador leva na cintura, para compensar a flutuação natural causada pela roupa e pelo cilindro de ar). Mas a última aula seria nas proximidades de uma ilha, onde havia um naufrágio, necessário pegar uma barco para chegar até lá.
Só que eu, além de cego, passo mal em embarcação. Difícil dizer o que dava mais raiva, ser o único a passar mal enquanto todos estavam aproveitando a paisagem e ansiosos com o mergulho, ou aguentar o piloto do barco comentando que em muitos anos fazendo aquele percurso, pouquíssimas vezes tinha visto o mar tão calmo. Meu estômago não achava o mesmo.
Depois de vomitar umas 2 ou 3 vezes, coloquei a roupa de mergulho (nova, até o tornozelo), o lastro de sempre e mergulhei com o resto do grupo. Na primeira inspirada mais forte, cadê o Paiva? Flutuei até a superfície e não conseguia mergulhar mais. O professor voltou e me puxou para baixo pela nadadeira. Na próxima inspirada mais forte um pouco, flutuei de novo. O professor voltou atrás de mim e explicou que eu deveria tentar ficar com a cabeça sempre mais baixa que o tronco e os pés, para não "subir" de novo.
O problema é que todas as aulas eu fiz com uma roupa velha, com bermuda. E o batismo fiz com uma roupa nova, de calça. Só então descobri que quanto mais nova e maior a cobertura da roupa de neoprene, mais ela ajuda na flutuação. Ou seja, eu deveria ter colocado mais lastro. Mas por que ninguém me contou isso antes?!
Apesar da gozação dos companheiros - e de vomitar uma vez mais na volta para a praia - dessa vez consegui ver alguns peixes a mais. E decidi fazer a cirurgia da miopia naquele mesmo ano.
Ah, sim, apesar de todo o esforço e dedicação em cumprir os horários das aulas práticas e teóricas por 1 semana de férias, nenhum de nós nunca mais mergulhou na vida.
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ResponderExcluirSo um detalhe... eu voltei a mergulhar novamente.. ;-)
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