Faz tempo que o blog não publica
causos, não porque eles não existam, mas apenas por preguiça de registrá-los na
nuvem e compartilha-los com meus fiéis seguidores. Gostaria que o retorno fosse
causado pelo fim dessa preguiça pantaneira, mas infelizmente está sendo por um
motivo bem mais grave: a morte prematura e inesperada de um dos principais inspiradores
e/ou protagonistas de diversos causos, meu pai Binho Paiva.
Se a tristeza pela partida é
inevitável, o jeito é tentar reduzi-la registrando alguns causos exclusivamente
dele, como o próprio apelido.
O nome escolhido pelos meus avós
para batizar o primeiro filho homem era Roberto, mas meu pai veio ao mundo em
1942, durante a Segunda Guerra Mundial, em que os diversos países "Aliados"
combatiam os três países pertencentes ao "Eixo", que eram Itália,
Alemanha e Japão. Ocorre que a primeira sílaba das capitais desses países
formavam exatamente o nome Roberto, o que poderia ser considerado uma
provocação, uma afronta, uma defesa dos inimigos do Brasil na época.
Itália --> ROMA --> RO
Alemanha --> BERLIM --> BER
Japão --> TÓQUIO --> TO
Temendo represálias a um nome
"suspeito", o jeito encontrado pelos meus avós foi mudar para "Rubens"
e deixar "Roberto" para o próximo filho, que nasceu quando a Guerra
já havia acabado e não havia mais risco de serem mal interpretados. Por esse
causo, meu tio virou Beto e meu pai passou de Rubens para Rubinho e daí para
Binho. E foi Binho até o fim da vida.
E foi como Binho que ficou
conhecido na família, no círculo de amigos, nos clubes que frequentou e no
trabalho. Haviam algumas pequenas variações, como tio Binho ou tio Rubinho na
família ou "seu" Binho, que era como alguns dos meus amigos o
chamavam, misturando a formalidade do "senhor" com o conhecido apelido
carinhoso, mas o normal era apenas Binho.
Durante algum tempo, quando se
tornou chefe da agência do banco em que trabalhava, tentou impor algum respeito
e passou a atender o telefone identificando-se como "Rubens". Os
clientes tratavam-no formalmente nesses casos, até que chegavam à agência e
procuravam pelo tal Rubens. Quando indicavam o meu pai, a saudação era
imediata: "Ô Binho, você que me atendeu !!!?!!! Que bom, o assunto é o
seguinte...". Em pouco tempo ele desistiu de tentar impor o nome completo
e adotou o Binho pelo qual era muito mais conhecido.
Outra coisa engraçada é que em
Amparo existiam dois Rubens Paiva. Embora ambos tivessem um outro sobrenome, os
dois eram conhecidos apenas como Binho Paiva. Sorte que a lista telefônica da
cidade tinha o endereço também, então após algumas ligações erradas, o pessoal ia
se acostumando. Convém lembrar que estou falando de uma época pré-celular e agendas
eletrônicas, em que o jeito para descobrir o telefone de alguém era pesquisando
na lista em papel mesmo.
Vai com Deus, Binho. Espero poder
sempre honrar teu nome. Obrigado por ser para sempre o meu pai.