terça-feira, 30 de dezembro de 2014

BINHO PAIVA

Faz tempo que o blog não publica causos, não porque eles não existam, mas apenas por preguiça de registrá-los na nuvem e compartilha-los com meus fiéis seguidores. Gostaria que o retorno fosse causado pelo fim dessa preguiça pantaneira, mas infelizmente está sendo por um motivo bem mais grave: a morte prematura e inesperada de um dos principais inspiradores e/ou protagonistas de diversos causos, meu pai Binho Paiva.



Se a tristeza pela partida é inevitável, o jeito é tentar reduzi-la registrando alguns causos exclusivamente dele, como o próprio apelido.

O nome escolhido pelos meus avós para batizar o primeiro filho homem era Roberto, mas meu pai veio ao mundo em 1942, durante a Segunda Guerra Mundial, em que os diversos países "Aliados" combatiam os três países pertencentes ao "Eixo", que eram Itália, Alemanha e Japão. Ocorre que a primeira sílaba das capitais desses países formavam exatamente o nome Roberto, o que poderia ser considerado uma provocação, uma afronta, uma defesa dos inimigos do Brasil na época.

                Itália                   -->          ROMA                -->          RO
                Alemanha           -->          BERLIM              -->          BER
                Japão                  -->          TÓQUIO             -->          TO

Temendo represálias a um nome "suspeito", o jeito encontrado pelos meus avós foi mudar para "Rubens" e deixar "Roberto" para o próximo filho, que nasceu quando a Guerra já havia acabado e não havia mais risco de serem mal interpretados. Por esse causo, meu tio virou Beto e meu pai passou de Rubens para Rubinho e daí para Binho. E foi Binho até o fim da vida.

E foi como Binho que ficou conhecido na família, no círculo de amigos, nos clubes que frequentou e no trabalho. Haviam algumas pequenas variações, como tio Binho ou tio Rubinho na família ou "seu" Binho, que era como alguns dos meus amigos o chamavam, misturando a formalidade do "senhor" com o conhecido apelido carinhoso, mas o normal era apenas Binho.

Durante algum tempo, quando se tornou chefe da agência do banco em que trabalhava, tentou impor algum respeito e passou a atender o telefone identificando-se como "Rubens". Os clientes tratavam-no formalmente nesses casos, até que chegavam à agência e procuravam pelo tal Rubens. Quando indicavam o meu pai, a saudação era imediata: "Ô Binho, você que me atendeu !!!?!!! Que bom, o assunto é o seguinte...". Em pouco tempo ele desistiu de tentar impor o nome completo e adotou o Binho pelo qual era muito mais conhecido.

Outra coisa engraçada é que em Amparo existiam dois Rubens Paiva. Embora ambos tivessem um outro sobrenome, os dois eram conhecidos apenas como Binho Paiva. Sorte que a lista telefônica da cidade tinha o endereço também, então após algumas ligações erradas, o pessoal ia se acostumando. Convém lembrar que estou falando de uma época pré-celular e agendas eletrônicas, em que o jeito para descobrir o telefone de alguém era pesquisando na lista em papel mesmo.


Vai com Deus, Binho. Espero poder sempre honrar teu nome. Obrigado por ser para sempre o meu pai.