domingo, 23 de fevereiro de 2014

Correndo atrás

O Sr. Getúlio era conhecido de toda a agência bancária. Fazia muitos anos que ele ia pelo menos uma vez por semana fazer depósito, saque, pegar talão de cheques, tirar extrato, enfim... uma porção de coisas que poderiam ser feitas no caixa eletrônico mas que o Sr. Getúlio preferia fazer no caixa. Ele dizia que era porque não confiava na tecnologia, mas todos acreditavam que era para ter com quem conversar.

E a vida ia seguindo normalmente, até o dia em que o Sr. Getúlio chegou contando que estava se aposentando, que iria fazer uma viagem rápida com a patroa e depois apenas cuidar dos netos. E pediu para sacar todo o dinheiro que tinha na conta.

O caixa achou estranho, porque ele nunca tinha feito isso, sempre sacava mais ou menos a mesma quantia, suficiente para a semana, e tirar tudo de uma vez não era normal. E pareceu pior ainda quando ele pediu em notas pequenas, que exigiriam uma quantidade maior de notas e fariam um volume grande. Mas o Sr. Getúlio era um cliente antigo, amigo dos funcionários, e não custava agradá-lo - ainda que ele estivesse praticamente fechando a conta.

A preocupação do gerente era com a segurança do cliente, pois o dinheiro daria diversos pacotes, impossível de carregar nos bolsos, e por isso ele se aproximou do caixa e perguntou como ele faria para levar aquela grana toda.

O Sr. Getúlio deu uma risadinha irônica e tirou uma cordinha tipo barbante do bolso, dizendo que estava tudo sob controle. Foi empilhando as notas, à medida que o caixa ia lhe passando o dinheiro, e amarrando com a cordinha, fazendo diversos montinhos. Ninguém estava entendendo nada e o pessoal começou a ficar curioso, mas não tinham coragem de perguntar.

Quando todo o dinheiro já havia sido colocado em cima do balcão e devidamente empilhado e amarrado, o Sr. Getúlio agradeceu, se despediu, derrubou tudo no chão e saiu puxando o dinheiro pela cordinha.

O gerente se aproximou de novo, assustado, e perguntou o que estava acontecendo, temendo pela segurança do cliente, mas a resposta o deixou desconcertado:

"A vida inteira eu corri atrás de dinheiro; agora é hora do maldito dinheiro correr atrás de mim".

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